quinta-feira, 31 de março de 2011

Diário de uma comunidade “pacificada”

O primeiro dia de operações para implantação da Base da comunitária no Calabar misturou sentimentos e trouxe a tona o que mais temíamos. Será que a força que delegamos a policia irá se voltar contra nós mesmos?
Em meio a toda euforia que cercava o ínicio das operações percebi que a esperança de dias melhores era bem maior que o medo de uma policia que há muito tempo abusa do poder e ao invés de dá segurança a comunidade trazia medo e ódio a todos os moradores.
Ao despertar pelo barulho do helicóptero da policia militar a ansiedade começa a tomar contar de todo o corpo. Ligeiramente vi todas os meus vizinhos ligarem a televisão ao mesmo tempo, aquelas imagens de nossa comunidade sendo transmitida ao vivo para toda cidade, acredito que em muitas pessoas trouxe a mesma sensação e a mesma pergunta: E AGORA? O passado remonta lembranças dos dias em que víamos crianças correndo pela rua, de pessoas conversando até tarde na rua e naquele tempo o medo não era da bala perdida das guerra do tráfico, mas sim o medo de encontrar policias loucos que tinham o mínimo de respeito pela vida humana.
E o futuro? No exato momento era neblina, mas a luz que irradiava mais a frente iluminava o caminho, porque era exatamente a luz da esperança, mas uma esperança tão palpável que queria abraçá-la e mostrar como estava feliz por ela está ali.
A televisão mostrava imagens áreas, mostrava pessoas indo trabalhar, mostrava uma coisa incomum, mulheres e crianças sendo abordadas. Mas e daí, estávamos felizes de ser abordados, mesmo que o nosso caminho naquele momento fosse o da escola, que a arma que estávamos portando eram livros e a droga que levávamos era intocável, intocável? Acho que não. A esperança nos olhos era sim tocável, e estávamos tão drogados com ela que era possível ver o nosso estado de espirito. Mas enfim, nem tudo pode ser tão perfeito, a televisão mostrava policias abordando com educação e entregando panfletos, mostrava depoimento de moradores concordando com a ocupação da policia, mas e por trás das câmeras?
Por trás das câmeras apesar de não ter presenciado nada ouvi coisas que começaram a me preocupar:
1 – INVASÂO DE CASAS: Sim, caro leitor você pergunta e os mandatos que estavam expedidos? Minha resposta? A sua pergunta. Pois é, cadê os mandatos? Tanto planejamento, tanta conversa de policia diferenciada, por que diabos então invadiram as casas? Uma das coisas mais humilhantes para uma pessoa é ter sua casa invadida, suas coisas reviradas, a sensação do dono da casa é de que ele é um nada.
2 – ABORDAGENS GROSSEIRAS, PORRADA! Logicamente por trás das câmeras muitos relatos de grosserias, sei de pessoas que foram “dá queixas” por invasão, ameaças, agressão verbal e até física. Coisas completamente desnecessárias, até porque que bandido depois de toda divulgação antecipada e com a televisão mostrando tudo ao vivo, repito, que bandido iria pra rua com armas e drogas?
3 - MÍDIA SENSACIONALISTA: Calabar! Qual a sua primeira impressão ao ouvir esta palavra? Vou listar algumas, talvez você se identifique com uma delas:
1- Deus é mais lá o bicho pega
2- Tá maluco! Você entra vestido e sai nu, isso se sair;
3- O bagulho lá é doido
4- Não vou lá nem a pau.
Já ouvi muitas coisas quando falava que morava no Calabar, eu sempre procurava amenizar a situação, falando que o Calabar antigamente não era esse terror todo e que era um ótimo lugar para morar. Enfim, talvez sua cabeça estava muito ligada nas emissoras de televisão, em jornais impressos que muitas vezes falavam tanto absurdo do bairro sem nenhum conhecimento de causa, mas sim por puro sensacionalismo. Sinceramente eu acho quem mais perdeu no dia da operação foi a mídia. Pelo simples fato de não haver vítimas, sinto muito mídias sensacionalistas, mas desta vez a vida prevaleceu. Ainda sim, para não passar em branco falaram tantas besteiras, tantas informações erradas, pelo simples fato de mostrar coisas ruins, acusaram pessoas de uma coisa que não fizeram, quer dizer expõem uma pessoa e o estrago já está feito, pra desfazer isso é muito difícil. Toda fama ruim e exagerada que o Calabar tinha antes dos últimos dois anos devemos a esse tipo de mídia, porém vale ressaltar que uma das que mais odiávamos a TV BAHIA, nos últimos anos, tem nos ajudado bastante, é lógico que ela transmiti as coisas ruins que acontecem na comunidade, afinal essa é a missão da imprensa, mas do outro lado, é uma das poucas que têm lembrado que no Calabar existe pessoas de bem e que essas pessoas de bem, respondendo a alguns bostéticos que arriscam dizer no Calabar tem mais de 80% pessoas de bem, eu digo a você, no Calabar tem mais de 99% de pessoas de bem e sempre teve. Claro que pessoas de bem a que me refiro, são as pessoas que não precisam de coisas ilícitas para viver.
Fazendo um último balanço, a ocupação da policia tem sido até agora muito, mas muito mais positivo do que o contrário.
E lembra daquela luz? Está cada vez mais acessa. Muitas pessoas na rua, pessoas que não circulavam há muito livremente na comunidade, caminham sorridentes e despreocupadas, a policia não é mais o medo, a policia agora dá sensação de segurança. Quem diria que eu ia viver pra ver isso, a policia e a comunidade, nossa!
Do começo da operação até hoje 31 de março de 2011 está tudo uma maravilha!
Veja alguns comentários interessantes que já ouvi:
1 – Vamos tirar as grades, não tem mais precisão.
2 – Oxi, sexta-feira vou comer água até umas horas.
3 – Porra, agora vou poder usar o mercado na madrugada.

Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Bom, é isso gente, sei que domingo já vai rolar um samba duro lá no camarão, sabe o que é mais interessante de tudo isso, é que muita gente da Bomba vai está presente.
Sei também que outra banda de samba já está programando um show na quadra de espertes da Bomba, sabe o que é mais interessante de tudo isso, sei que muita gente do camarão vai está presente. E agora o Posto de saúde, a Escola Aberta do Calabar, a Creche Comunitária do Calabar, a Biblioteca Comunitária do Calabar, o Prédio do Provida com suas varias atividades, mas do que nunca pode ser desfrutado por todo mundo!
Um ótimo 2011 para todos! Calabar Sou eu e você?
O diário vai continuar...

2 comentários:

Jucilene Cerqueira disse...

Oi Rodrigo!! Quanto tempo, hein!!! Saudade, viu!! Imagino o misto de sensações e sentimentos que vocês vivem neste momento, afinal, também sou moradora de um bairro estigmatizado e que já foi alvo (diversas vezes) de ações 'pacificadoras' dessa máquina poderosa do estado, chamada polícia. E como anda as ações da bibliteca e as meninas super-maravilhosas??

Rodrigo Calabar disse...

Oi Juci. Pois é por onde tu andas hem? Estamos trabalhando, as meninas apresentaram um recital no evento que fizemos no parque, achei q veria vc lá. Abraços. SAudades de vc